quinta-feira, 20 de julho de 2017

Após 4 anos de retração, mercado automotivo acusa tímido crescimento


Já estava virando clichê analisar as vendas de automóveis no Brasil e constatar, ao final de cada semestre, mais queda no número de emplacamentos. Mas depois de um 2016 para lá de amargo, 2017 parece veio com sinal de melhora. Pela primeira vez em quatro anos, o saldo é positivo, ainda que de forma fraca: um crescimento de 4,2% em relação ao mesmo período do ano passado nas unidades comercializadas de automóveis de passeio e comerciais leves, de acordo com os dados divulgados pela Fenabrave.

Mesmo com esse aumento, o momento ainda parece ser de mais cautela. “O ano passado foi extremamente fraco, já estávamos abaixo do fundo do poço. Estamos vendo esforços das montadoras para desovarem seus estoques, com muitas promoções sem juros. Pelo que vejo, acredito que fecharemos 2017 com uma melhora de uns 5,5% ou 6% em relação a 2016. Não acredito em algo tão superior”, prevê Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.

Para Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave, a instabilidade política no país segue como um problema grave para a indústria automotiva. “Precisamos ainda blindar a economia dessa questão política. Mesmo com esse cenário político lamentável, se separássemos uma da outra, a economia poderia estar um pouco melhor”, imagina.

Entre todas as fabricantes nacionais, a que parece em melhor situação é a Chevrolet. Não foi a que mais cresceu – está longe disso, aliás -, mas conseguiu se manter na liderança e ver suas principais ameaças, Fiat e Volkswagen, caírem na participação de mercado. As três têm hoje, respectivamente, 17,73%, 13,61% e 12,60%, contra os 16,56%, 15,11% e 13,33% de 2016. A Hyundai, que antes estava à frente da Ford, perdeu a quarta posição e passou o quinto lugar, apesar de já ter comercializado 17.323 unidades do novo SUV compacto Creta.

A americana, na verdade, não estava atrás apenas da coreana no acumulado de junho do ano passado, mas também da Toyota, que passou do quinto para o sexto lugar. Como de costume, sua maior estrela no portfólio segue sendo o sedã médio Corolla, líder da categoria, que passou dos 31.891 emplacamentos no primeiro semestre de 2016 para os 29.188 no mesmo período de 2017.

O principal responsável pelo avanço da Chevrolet é o hatch compacto Onix, o modelo mais vendido do país, que acumula 83.236 emplacamentos só neste primeiro semestre. Mas Paulo Roberto Garbossa tem uma explicação para esses resultados. “Há uns quatro anos, a Chevrolet estava em terceiro lugar, mas em processo de renovação de quase todo o seu portfólio. Trocou praticamente tudo. Isso traz perdas iniciais, mas é preciso lembrar que o mercado gosta de novidades”, explica Garbossa, que completa com uma observação: “A Fiat está nessa movimentação agora”.

A marca italiana perdeu no geral, mas passou de 36,92% de participação entre os comerciais leves para 38,13%, em função do sucesso da picape Toro. A Chevrolet cresceu até mais, impulsionada pela reestilização promovida na S10, indo dos 10,92% de 2016 para 14,01% neste ano. É preciso também valorizar os números conquistados pelo segmento de picapes médias: um aumento de 17% nas vendas, enquanto as pequenas sofreram retração de 6,2%.

Festa útil

O mercado está mesmo na era dos SUVs. O consumidor brasileiro – até mesmo em função das ruas esburacadas nacionais – se sente atraído por uma suspensão elevada, além da oferta de espaço. Com o lançamento global da segunda geração do Jeep Compass realizado no Brasil, a marca americana passou de 2,77% entre janeiro e junho de 2016 para 4,07% no mesmo período de 2017. Ultrapassou inclusive a Nissan, que também cresceu bastante: foi de 2,60% para 3,44% com a chegada do SUV compacto Kicks.

Agora, a marca nipônica pretende elevar essa margem ainda mais. Isso porque, no início deste mês, apresentou sua linha completa do utilitário esportivo, agora não mais trazido do México e já fabricado em Resende, no Rio de Janeiro. Incluindo uma versão mais “pelada”, com calotas e transmissão manual, e outra direcionada às vendas PCD (Pessoas com Deficiência).

De acordo com a marca, cerca de 7% das vendas de SUVs compactos no país foram nessa modalidade em 2015. Além disso, antes de ser nacionalizado, o modelo estava à venda apenas atuando na faixa de preço acima de R$ 90 mil, que representava cerca de 50% das vendas do segmento. “Hoje, com o carro feito aqui, temos a possibilidade de cobrir essa outra metade. Estimamos que só as vendas PCD hoje possam representar cerca de 12% do total de SUVs”, diz Humberto Gomez, diretor de Marketing da Nissan do Brasil.

Fonte: http://www3.fenabrave.org.br:8082/plus/modulos/noticias/ler.php?cdnoticia=10112&cdcategoria=1&layout=noticias